sábado, 27 de novembro de 2010

Aquilo que se bebe em xícara translúcida - primeiros dois dias

 (relato por Fábio Purper Machado)

A intervenção do Coletivo (Des)Esperar no Macondo Circus 2010 se aproxima do conceito de arte relacional, propondo que a interação do público o transforme. Este evento, em edições passadas, priorizava a música, mas neste ano a organização passou a propor uma integração entre as artes, com intervenções, geralmente performáticas, sendo realizadas nos intervalos entre as bandas.


 Construímos a xícara com tubos de pvc, plástico e papel. Seu resultado estético se assemelha a xícaras de cerâmica trabalhadas por Tamiris e às xícaras de papel criadas por Andressa para a feira de artes Desvenda, também trazida ao evento, com a diferença de ser uma xícara translúcida, e essa translucidez é a questão com a qual o trabalho se relaciona. Para o interior da xícara, gotas de papel branco, cujo acabamento em papel colado ressoa entre o trabalho do coletivo e a pesquisa em escultura por mim empreendida. Enviamos a nossos contatos na internet uma chamada com três perguntas, solicitando que fossem repassadas e respondidas até o dia 24 de novembro:





- O que transparece?

- O que necessitamos que transpareça?

- O que não queremos que se beba em xícara opaca?

No dia 25, as respostas foram reunidas e impressas e a xícara foi posicionada num ponto do Macondo Circus. Ficamos algum tempo em torno dela, observando reações e fazendo alguns ajustes. Quando a intervenção foi anunciada, numa primeira aproximação à linguagem artística da performance, despejamos as gotas ao lado da xícara e nos sentamos ao redor, Andressa, Florence e eu proferindo as perguntas e Tamiris lendo as respostas, para que os três primeiros as anotassem nas gotas, que, ao final, foram jogadas na xícara.


Ontem, dia 26, um pouco antes do momento em que as atenções deveriam se voltar à intervenção, Tamiris e eu introduzimos três tiras de tecido (tnt) na xícara. Andressa e Florence, vestidas de preto e maquiadas, entraram na xícara e começaram, pacientemente, a pregar as gotas nesses tecidos.
 Nesta ocasião, quebrando o silêncio e juntando-se ao burburinho do público, começamos a fazer as perguntas para elas, que respondiam lendo nas gotas. Ao contrário dos trabalhos de diversos artistas performáticos, não foi proposto um desfecho definido, mas sim um tipo de diluição da intervenção no tempo. Para hoje está prevista a revelação do que são esses tecidos, e mais um desfecho a se diluir... 






Visite também
http://www.macondocircus.com/2010/?p=855

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